A temporada de Fórmula 1 caminha para um desfecho dramático no Grande Prêmio de Abu Dhabi neste fim de semana, com muito mais em jogo do que apenas a bandeira quadriculada. Lando Norris, Oscar Piastri e Max Verstappen preparam-se para o capítulo final de uma batalha tripla pelo título do Campeonato de Pilotos, encerrando um ano marcado por rivalidades intensas. O cenário chega carregado de tensão após os eventos no Catar, onde Norris, apesar de ter a oportunidade, não conseguiu assegurar a vitória, terminando em quarto lugar após uma manobra tardia sobre Kimi Antonelli.
O episódio no Catar, no entanto, deixou marcas profundas fora das pistas. O jovem piloto da Mercedes, Kimi Antonelli, foi alvo de ameaças de morte vis e acusações de ter facilitado deliberadamente a passagem de Norris. A situação escalou após comentários do engenheiro de corrida de Verstappen via rádio sugerindo jogo sujo, o que levou a Red Bull a emitir um comunicado lamentando o abuso sofrido pelo italiano. É nesse ambiente de alta pressão e controvérsia que a temporada se encerra, mas, longe dos holofotes da disputa pelo título, uma outra história de redenção e sobrevivência técnica se consolidou.
O detalhe técnico que salvou a carreira de Lawson
Enquanto o mundo observa a briga pelo campeonato, Liam Lawson garantiu seu futuro na categoria máxima do automobilismo de uma maneira surpreendente. Para além da fortaleza mental necessária para se recompor após o choque de um quase rebaixamento pela Red Bull no início da temporada, um detalhe técnico específico foi fundamental para colocar o neozelandês no caminho certo e assegurar seu contrato com a Racing Bulls para 2026. A virada de chave aconteceu no Grande Prêmio da Áustria, no final de junho.
Apenas uma corrida depois de Lando Norris ter se beneficiado de um ajuste semelhante em sua McLaren, Lawson recebeu uma geometria de suspensão dianteira revisada. Assim como o rival britânico, Lawson não estava satisfeito com a falta de sensibilidade na dianteira de seu carro. A modificação, desenvolvida com a ajuda do piloto no simulador da equipe, provou ser um divisor de águas. Embora a mudança fosse praticamente imperceptível externamente — sequer citada nos documentos oficiais de atualização da equipe —, o impacto na pilotagem foi imediato.
Uma mudança da água para o vinho
Em sua primeira entrevista exclusiva após a confirmação de sua permanência para 2026, Lawson detalhou a transformação. Segundo o piloto, a diferença foi gritante desde o momento em que foi para a pista, proporcionando uma sensação de pilotagem muito mais natural. Isso permitiu, pela primeira vez no ano, um fim de semana limpo, com bons treinos livres, uma classificação sólida e uma entrega consistente na corrida. O resultado foi um sexto lugar, sua melhor marca na F1 até aquele momento, criando a base para uma melhora de forma na segunda metade da temporada que convenceu a cúpula da Red Bull.
Curiosamente, Lawson admitiu que só soube posteriormente que Norris e outras equipes haviam feito ajustes similares. Essa experiência trouxe uma lição valiosa, remetendo aos tempos do kart. O piloto percebeu que o progresso na F1 não se resume apenas a acelerar o equipamento que se tem em mãos, mas trabalhar nos detalhes que permitem extrair o máximo da capacidade do condutor.
A mentalidade de customização e resiliência
Lawson comparou a situação ao início de carreira no kart, onde o piloto ajusta pedais, volante e banco para encontrar o conforto ideal. Ao chegar na Fórmula 1, com toda a sua tecnologia avançada, a tendência natural é aceitar o acerto padrão como “perfeito”. A temporada ensinou ao neozelandês que o carro precisa ser adaptado ao piloto, e que mudanças sutis podem não funcionar para a maioria, mas serem essenciais para o conforto individual.
Essa descoberta técnica veio acompanhada de uma prova de fogo psicológica. O piloto de 23 anos enfrentou circunstâncias que poderiam ter destruído a confiança de atletas menos resilientes. Após sentir-se exposto ao risco real de ver sua carreira na F1 desaparecer depois de ser preterido pela equipe principal da Red Bull após apenas duas corridas, Lawson recusou-se a deixar o desapontamento vencê-lo. Ele sabia que, se não entregasse o máximo, todo o sacrifício feito por ele e sua família teria sido em vão. Manter-se no assento da Racing Bulls permitiu que ele respondesse na pista, provando seu valor e garantindo seu lugar no grid para o futuro.